1 mai 2008
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Alcida Rita Ramos, « Nomes Sanumá entre gritos e sussuros », Etnográfica, ID : 10670/1.k6wkxg
Como os demais indígenas Yanomami, os Sanumá (o subgrupo mais setentrional dessa família lingüística amazônica) praticam com afinco o sigilo dos nomes próprios. No entanto, ao contrário dos outros, eles praticam também a suspensão do sigilo quando se trata de fazer coisas com nomes, para parafrasear J. L. Austin. Transformados em ferramentas sociais, os nomes sanumá são capazes de marcar o público com recursos do privado. Assim, alguns poucos nomes masculinos são retirados de seu sigilo doméstico para anunciar o surgimento de grupos patrilineares com os quais os Sanumá organizam sua vida política e matrimonial. Com o advento do conquistador, nomes estrangeiros começaram a entrar no léxico social dos Sanumá, aliviando, assim, a pressão sobre a quebra de sigilo onomástico. Primeiro missionários protestantes, com seus Davis e suas Saras, depois garimpeiros e outros aventureiros da mata, com seus regionalismos e alcunhas idiossincráticas - Ceará, Paraíba, Passarão, etc. - têm contribuído substancialmente para que os nomes sanumá fiquem cada vez mais preservados do ouvido público. Pareceria, então, não ser mais necessário sussurrar nomes para identificar as pessoas, podendo-se agora chamá-las aos gritos. No entanto, as coisas não se passam bem assim. De que modo a etiqueta dos nomes tem reagido a essas mudanças é o que tentarei esquadrinhar aqui.