19 juin 2020
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Virgilio Correia, « Práticas educativas estratégicas dos alunos: uma via para contrariar os processos de escolarização constrangedores », Centro de Estudos Internacionais, ID : 10670/1.t4r93t
Contextualização: Os constrangimentos das realidades económicas, sociopolíticas e educativas das formações sociais, e as debilidades das condições socioeconómicas das famílias e dos alunos dificultam o processo de escolarização destes últimos. Existem, no entanto, evidências empíricas que atestam que em determinadas circunstâncias aqueles constrangimentos e debilidades podem favorecer práticas educativas (decisões e acções), que tornem os processos de escolarização mais acessíveis e bem-sucedidos. Objectivo: Esta pesquisa examina algumas práticas educativas estratégicas que os alunos de fracos recursos socioeconómicos dos níveis de ensino secundário e superior, em Luanda (Angola), concretizam para contrariar os obstáculos associados aos seus processos de escolarização. Metodologia: Com o auxílio do SPSS (17.0.1) procedeu-se à análise quantitativa dos dados recolhidos através de um inquérito por questionário (137). Os dados de um inquérito por entrevista não-dirigida (25 alunos) foram objectos de uma análise qualitativa, com apoio da aplicação informática NVivo6. Os conteúdos dos dados recolhidos diziam respeito a seis áreas ou categorias: percurso escolar, projectos e expectativas escolares, projectos e expectativas profissionais, envolvimento familiar no processo de escolarização, caracterização pessoal e familiar, e condições de vida estudantil e estratégias face ao ensino. Resultados: Os resultados da análise revelam que, face aos constrangimentos e dificuldades associados aos processos de escolarização, estes alunos tendem a desenvolver práticas educativas estratégicas (procura de apoio económico-financeiro para a realização dos estudos, envolvimento activo nos estudos e recurso ao “tráfico de influências”) conducentes à melhoria das suas condições de vida (presente e futura). Semelhantes práticas surgem particularmente ligadas à sobrevalorização da educação escolar, apreendida enquanto capital simbólico e de prestígio. Conclusões: Estas decisões e acções destes alunos de fracas condições socioeconómicas são, de facto, práticas educativas estratégicas. Através delas, os alunos procuram satisfazer os seus interesses escolares presentes e profissionais futuros. Elas revelam estes alunos enquanto actores sociais detentores de autonomia, capazes de utilizar a margem de manobra de que dispõem para enfrentarem ou resolverem os constrangimentos que se lhes impõem. São apresentadas sugestões para: a) melhorar a compreensão da importância da valorização da educação escolar para o sucesso da vida social e profissional dos alunos; e b) reforçar as capacidades dos alunos pertencentes a grupos sociais desfavorecidos de apreenderem criticamente as realidades socioeducativas em que se inserem e projectarem o futuro.