Droits humains ou « privilèges de criminels » ? Les malheurs de la démocratisation brésilienne

Résumé Fr Pt En

À partir des années 1980, la majorité de la population de São Paulo s’est mise à interpréter la défense des droits humains pour les prisonniers de droit commun, comme la défense de « privilèges de criminels ». Cet article propose une analyse de ce qui a donné lieu à cet amalgame pervers. J’examine pour cela les arguments et les actions des défenseurs des droits humains pour les prisonniers de droit commun, ainsi que de leurs opposants. J’aborde également les notions de droits qui existent dans la société brésilienne. Je compare en outre les perceptions des droits sociaux et des droits individuels en montrant que, si les premiers sont largement légitimés, les seconds – qui incluent les droits humains – sont assimilés à des privilèges. Enfin, je mets également en lumière la façon dont, à São Paulo, la criminalité, les criminels et les droits humains qui leur sont associés, offrent un espace privilégié pour articuler des discours et des pratiques de résistance au changement social, de discrimination sociale, de soutien au recours à la force et d’accentuation de la privatisation.

A partir do início da década de 80, a defesa de direitos humanos de prisioneiros comuns passou a ser associada pela maioria da população paulistana à defesa de « privilégios para bandidos ». O artigo discute como foi possível essa associação perversa. Para tanto, analisa os argumentos e ações tanto dos defensores quando dos opositores ao respeito dos direitos humanos de prisioneiros comuns. Essa análise considera as noções de direitos existentes na sociedade brasileira e contrapõe as percepções de direitos sociais e direitos individuais, mostrando que enquanto os primeiros são largamente legitimados, os segundos — que incluem os direitos humanos — são associados a privilégios. Mostra, ainda, como em São Paulo o crime, os criminosos e os direitos humanos a eles associados vêm servindo como excelente campo para a articulação de discursos e práticas de resistência à mudança social, de discriminação social, de apoio ao uso da força e de ênfase na privatização.

From the 1980s onwards, most of the population of São Paulo began to interpret the defense of human rights for ordinary prisoners as the defense of « criminal privileges ». This article proposes an analysis of what gave rise to this perverse amalgam. To this end, I examine the arguments and actions of human rights defenders for ordinary prisoners, as well as their opponents. I also discuss the notions of rights that exist in Brazilian society. I also compare perceptions of social rights and individual rights, showing that while the former are widely legitimized, the latter – which include human rights – are equated with privileges. Finally, I also highlight how, in São Paulo, crime, criminals and the human rights associated with them provide a privileged space for articulating discourses and practices of resistance to social change, of social discrimination, and of support for the use of force and increased privatization.