9 mars 2021
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Martha Ribeiro, « Entre escritas e usos dos corpos: a decolonização dos afetos no, através e além do teatro », Amerika, ID : 10.4000/amerika.12539
As narrativas de intimidade podem nos ensinar a enfrentar os dispositivos biopolíticos de controle de nossa produção imaterial, especialmente nossos afetos e desejos, porque são um convite luminoso para a invenção ou melhor, para a reinvenção radical do sujeito. O que é a invenção se não o questionamento das obviedades? Da ilusão material do mundo? De nossas construções e ideias de mundo? A experimentação de si tanto no biodrama, da artista argentina Vivi Tellas, como nos objetos relacionais, da artista brasileira Ligia Clark, são trabalhos investigativos que podem retomar, ainda que de forma sempre instável, a força vital do sujeito e da arte, juntos amalgamados. Pensar tudo outra vez, revisitar-nos, é criar tensionamentos no sistema de representação e suas “realidades” intimidantes, inventando novas possibilidades de intervenção no mundo. Abrindo rasgaduras, fissuras, brechas no real, o biodrama e os objetos relacionais abrem passagem para o corpo-teatro e o corpo-bicho, numa promessa de derrubada dos modelos hegemónicos produtores de corpos. Decolonizar, desmercantilizar e desprivatizar os corpos da forma, da especificidade, desobstruindo o acesso ao informe e à produção experimental conforma um poderoso debate geo-político entre as duas artistas.