1 janvier 2015
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Luís Pereira, « Violência, ética e religião », Revista Diacrítica, ID : 10670/1.inplve
A violência, sobretudo numa leitura literária, é um conceito difícil de definir por si-mesmo. A noção declina-se em campos empíricos extremamente diversos. A violência pode qualificar uma multidão de objetos, desde as tempestades até à paixão amorosa. Mas talvez o mais significativo seja que ao falar de violência, todos nós sabemos já do que se trata. A violência, na perspetiva ricoeuriana, habita a interseção entre a ética e a moral, pois é nela que emerge a necessidade da aspiração a uma vida realizada passar pelo reino da norma, sob a égide da obrigação. E daqui se estende a todos os níveis da praxis, sobretudo o político até tocar o profundo da convicção humana no religioso. Mas, e se esta violência, mais que um instinto ou uma pulsão agressiva não fosse a manifestação, como Girard entende, da rivalidade entre humanos, por causa de um desejo mimético. Talvez os mitos religiosos e os rituais sacrificiais não sejam mais que expiações coletivas, que através da eleição de um bode expiatório, exorcizam esta rivalidade desestruturante e apaziguam momentaneamente a comunidade.