Dois espíritos da estatística pública e seus efeitos: Isaac Kerstenetzky, Simon Schwartzman e a controvérsia do acesso aos microdados

Résumé Pt

Nosso trabalho examina o imperativo de disponibilização das bases desagregadas de dados (os microdados) não como questão técnica apenas, mas como transformação do espírito da estatística pública que, por sua vez, constitui modos de ação e legitimação do Estado brasileiro. De início, abordamos a atitude realista que perpassa a presidência de Isaac Kerstenetzky no IBGE (1970-9) e como ele procurou dar uma forma sistemática à economia brasileira, no lastro da construção do Estado desenvolvimentista. Porém, a crise do Estado desenvolvimentista também será a crise de desse espírito, então desqualificado como "totalitário". Em seguida, analisamos o esforço de Simon Schwartzman (1994-8) em atualizar a função do IBGE ao adotar uma atitude radicalmente construtivista. Enfim, discutimos como será no INEP, e não no IBGE, onde esse espírito irá melhor se enraizar, contribuindo para entreter um circuito de atores heterogêneas, singularizado pela retroação entre pesquisas e políticas educacionais.