1 juillet 2011
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Paulo Granjo, « O que é que a Adivinhação Adivinha? », Cadernos de Estudos Africanos, ID : 10670/1.zrfigs
Embora seja habitual assumir que os sistemas de interpretação do infortúnio dominantes na África Austral têm uma natureza determinista, a noção de "caos determinístico" parece mais adequada para compreender os princípios subjacentes à adivinhação com tinhlolo que é praticada em Moçambique. Nela não é adivinhado o futuro, mas as causas passadas para a situação presente, a par de como seria o futuro (que se sabe ser mutável e dinâmico) caso se mantivessem as condições presentes, que se pretendem manipular da forma mais vantajosa. Esse sistema é baseado numa estrutura determinista, aspira a explicar e regular a incerteza, mas o seu resultado é caótico em virtude da complexidade dos factores envolvidos, incognoscíveis na sua totalidade e caracterizados por agência. Encará-lo como um sistema de "domesticação da incerteza" legitima a abertura de novos campos comparativos a nível mundial (incluindo neles a noção probabilística de "risco"), e altera o fulcro das pesquisas sobre fenómenos de tipo Ngoma, deixando a atenção de estar centrada nos seus mecanismos de reprodução, enquanto "cultos de aflição", para passar a privilegiar as lógicas e visões do mundo que lhes estão subjacentes.